Ele já está cansado daquelas mesmas piadinhas com o seu nome, relacionando-o com um grande conglomerado de lojas de roupas.
Brincadeira! Renner de Souza, de 39 anos, é uma figura serena, que não se impacienta com tão pouco.
Ele trabalha na Mineração Vale Verde (MVV) desde maio de 2019, como técnico de Segurança do Trabalho, área a qual ele se apaixonou enormemente.
Mas até chegar aqui, ele percorreu um longo terreno. Por volta dos cinco anos de idade, em Passos-MG, onde nasceu, ele foi morar em um sítio com os pais. Sozinho, ia todos os dias a pé para a escola, que ficava a 8 km de sua casa.
Desde cedo, pois, acostumou-se a ir em busca de seus objetivos e lidar com a distância do percurso em si — uma metáfora visual e física muito simbólica, diante do que, por vezes, fica pelo caminho.
Ao passo que os anos foram se convertendo, Renner começou a ajudar no sítio. Havia uma roça e ele cuidava do gado, acabando por se envolver diretamente em uma granja e um açougue de sua família.
“Eu entendo até hoje como fazer qualquer atividade, qualquer corte no açougue. Na cozinha, também sou bom. Faço de tudo: doce, salgado, o que vier à cabeça. Lá em casa, quem comanda o fogão sou eu; não é a patroa, não”, brinca.
A “patroa” é sua esposa Valeska. Ela era vendedora em uma empresa distribuidora de materiais de informática em Passos. Trabalhou por 10 anos lá. Quando Renner veio trabalhar em Alagoas, ela abriu mão do emprego para ficarem juntos definitivamente. Ele explica o “definitivamente”.
“Nos conhecemos por volta de 2005. Eu já havia me separado da minha ex-esposa. Estava um ano e meio sozinho. Então a conheci. Ela tinha acabado de chegar do Paraná, sua terra natal, para morar com uma tia em Passos. Nós nos conhecemos melhor e namoramos por três meses. Mas, por conta de trabalho fora (fui morar no Mato Grosso), resolvemos ‘acabar’ o relacionamento. No entanto, nunca perdemos contato”, diz.
E continua: “Nós dois nos envolvemos amorosamente com outras pessoas, mas, no fim, nos encontramos no meio do percurso e reatamos os nossos laços. É assim até hoje: eu com meus dois filhos do primeiro casamento e ela, também, com os dois filhos do primeiro matrimônio. Resolvemos juntar a criançada toda! Somos ao todo seis pessoas lá em casa. Essa é minha ‘Grande Família’ que amo demais! Somos felizes aqui!”.
Os filhos de Renner se chamam Ítalo, de 17 anos, fã de games, e o pequeno Miguel, de cinco anos. Já os de sua esposa, Valentina, oito anos, e Enzo, quatro.
OS CAMINHOS
Percorrendo seu caminho até aqui, Renner encarou outros desafios: além de açougueiro e granjeiro, foi também frentista, trabalhando por certo tempo em um posto de combustíveis.
Chegou a cursar Eletrônica, mas atuou no Rio Tinto Brazil, a segunda maior mineradora de ferro do mundo, justamente com a área de Segurança do Trabalho.
“Não foi uma paixão à primeira vista, mas hoje amo o que faço. Na Rio Tinto, eu sempre estive ligado às demandas de Segurança do Trabalho; era sempre eu o responsável por desenvolver e manter os padrões de segurança dos setores em que trabalhei. Depois de alguns anos, tive a oportunidade de estudar com a ajuda de uma bolsa (quando inicialmente estudei Eletrônica). Com o passar do tempo, optei pelo curso de Segurança do Trabalho, onde me identifiquei plenamente com a disciplina, me formando no final de 2009”, conta.
De acordo com ele, a vinda para a MVV foi bastante calorosa. “Aqui na empresa, me sinto muito bem! Tive uma excelente acolhida por todos! Me sinto em casa, com verdadeiros amigos!”, exclama.
AS PEDRAS
O sobrenome de Renner é Souza. Tem origem toponímica. Vem de um rio e povoação de Portugal. Segundo consta, deriva do latim Saxa (com as variantes Sousa, Saucia e Socia) e significa “rocha”.
Sendo rocha, é pedra. E no meio do caminho, sempre há — trazendo o também mineiro Carlos Drummond para a margem da conversa.
E como em toda família, há pedras, ainda que deixem rastros imperceptíveis quando jogadas na água pueril do tempo. As ondas dessa frágil superfície se manifestam e reverberam, senão lá, dentro da gente.
Em 2016, Renner encontrou a mãe em casa, sem vida. A dona Miriam tirou, na verdade, a própria vida. Sofria de uma severa depressão e nos deixou aos 70 anos.
“Minha mãe era técnica em enfermagem, muito querida na cidade em que morava, pois era uma excelente profissional. As pessoas sempre buscavam ser atendidas por ela no hospital”, comenta.
Seu pai, o seu Lorisvaldo, faleceu no ano passado, vítima de um câncer agressivo no pulmão, que migrou para os ossos. Ele tinha 71 anos.
“A vida toda, minha mãe morou em Minas Gerais. Boa parte da vida, meu pai residiu em São Paulo. Mas nessa última fase, ambos moraram em Passos-MG, ainda que estivessem separados. Sempre vou lembrar dos dois com muito carinho”, ressalta Renner, agradecendo os ensinamentos desde criança.
Ele revela que foi a religião que o ajudou a encarar a morte de sua genitora. Não apenas isso, mas aceitar esse fato, essa perda.
“Fui criado na Igreja Católica, mas quando conheci o Espiritismo pude ter uma visão diferente da religião e da espiritualidade. Tenho certeza que a vida vale a vinda. Acredito que viemos a este mundo com o propósito de nos tornarmos pessoas e espíritos melhores, que ajudar o próximo e fazer a caridade, seja ela qual for, nos desenvolve e eleva espiritualmente”, reforça.
O ex-açougueiro agora reserva em mãos as lâminas silenciosas dos livros, as páginas. Recentemente, adquiriu uma coleção do Allan Kardec, um dos mais influentes mestres espíritas do mundo. Foram cinco livros: O Livro dos Espíritos; O Evangelho Segundo o Espiritismo; O Livro dos Médiuns; O Céu e o Inferno; e A Gênese.
Ele já terminou o primeiro e pretende continuar o restante das leituras durante este ano.
Mas sua literatura não cabe apenas nestes temas religiosos apenas. Gosta ainda de poesia, contos e livros relacionados ao trabalho. No cinema, prefere ficção, ação, suspense comédia e animações, indo desde filmes como O Senhor dos Anéis a séries como Vikings.
Agora um novo livro se abre à sua frente, a fim de os capítulos serem preenchidos não com ficção, mas com realidade. A sua “Grande Família” e ele como protagonistas.
De Passos, interior mineiro, aos novos passos dados em uma terra desconhecida, ainda assim hospitaleira e de horizonte reluzente, Renner segue brilhando na vitrine da vida. Esse é o preço de ser feliz onde e com quem se está. E nenhuma pedra pode quebrar essa vidraça. Não essa. Ele tem fé.
Renner pensa diferente. Renner faz mais. Renner é MVV.