Ditadura da felicidade: todos precisamos realmente entrar nesta busca incessante?

30 de setembro de 2022
Por Agência Lúmen
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É realmente necessário sermos felizes? Esta é uma questão intrigante que vem sendo abordada por pensadores(as) nos últimos anos.

Um deles é o psicólogo espanhol David Salinas, que recentemente lançou o livro La Dictadura de la Felicidad (“A ditadura da felicidade”, em tradução livre).

O psicólogo David Salinas (Foto: Reprodução/ internet)

David notabilizou que há uma certa imposição social para uma busca mais acentuada por uma condição emocional permanente de felicidade – o que essencialmente pode ser impossível, já que tudo é fluxo, impermanente.

Em nova entrevista à BCC, o psicólogo diz que o que “ele critica é a ‘imposição’ de ter que ‘ser feliz’ a todo custo, no contexto de uma indústria da felicidade crescente que se potencializou com uma avalanche de livros de autoajuda, com receitas para alcançar esse suposto bem-estar permanente”. Ele acredita que, destruindo estes mitos, é possível desfrutar mais da vida.

Confira entrevista abaixo, feita com a BBC:

BBC: Você é um profissional que trabalha com a vertente da terapia cognitivo-comportamental. Por que você optou por este caminho e não pelas outras escolas existentes na psicologia para tratar seus pacientes?

David Salinas: Porque é um tipo de terapia mais centralizado no passado, como a psicanálise. Eu tento ser eclético e acho que o que o trabalho desempenhado pelas outras escolas de terapia também é muito importante. Mas, às vezes, as pessoas vêm para a terapia procurando recursos, soluções e ajuda, em busca de ferramentas que permitam que elas enfrentem melhor o dia a dia.

BBC: Com esse enfoque terapêutico, você também escreveu seu livro, A Ditadura da Felicidade. O que é essa ditadura?

Salinas: Cada um pode entender a ditadura da felicidade como algo distinto. Eu entendo como uma imposição sociocultural, segundo a qual parece que é preciso sempre estar bem e não se permite que as pessoas fiquem mal. E não é só isso. Não se trata apenas de precisar estar sempre bem, mas de precisar estar sempre procurando a felicidade. Com isso, é preciso estar sempre procurando um estímulo que nos dê felicidade. Por isso, as pessoas se sentem muito pressionadas e, paradoxalmente, quando uma pessoa se sente pressionada, ela não se sente feliz. Parece que vivemos em um mundo onde não é permitido se sentir mal. Se você se sente mal, parece que você fracassou como indivíduo.

Livro ainda não foi publicado no Brasil; capa espanhola (Foto: Reprodução)

BBC: Mas, se olharmos de outra forma, as pessoas têm necessidade constante de se sentir melhor, é uma aspiração humana quase universal. Ou seja, não é só uma imposição externa. Antes desta entrevista, por exemplo, um colega me disse: “oh, não, outro escritor que vai dizer que não há problema em ser infeliz — chega, eu quero ser feliz!”

Salinas: Sim, tenho recebido críticas como esta, mas a maioria dos comentários foi na direção oposta — pessoas que dizem: “pare de me dizer o que preciso fazer para me sentir feliz”. Estamos cansados de mensagens positivas, da literatura que diz o que você precisa fazer para se sentir feliz. E o que conseguimos com isso é fazer com que as pessoas concentrem demais o foco em si mesmas e na busca do seu bem-estar. Mas, ao colocar o foco em si mesmo, você também vai percebendo suas carências, suas limitações, seus complexos e seus traumas, pois não podemos ser perfeitos. É normal ter tudo isso. É claro que eu também quero ser feliz, mas quero ser feliz com a consciência de que não vou alcançar a felicidade absoluta, nem uma felicidade que seja permanente, pois isso não existe.

Nós compramos a mensagem de que, se seguirmos um determinado roteiro de vida, se seguirmos alguns conselhos, vamos alcançar a felicidade eterna.

BBC: Você diz que esta ideia de felicidade é imposta. Por quem?

Salinas: A felicidade virou um negócio. Livros, conferências e congressos observam a felicidade como um negócio. E acredito que isso não é de todo ruim, porque, se são vendidas outras coisas menos importantes, por que não vender a felicidade? A questão é que não se deve enganar as pessoas, não se deve vender às pessoas um modelo de vida idealista que seja irreal. Você pode dizer às pessoas que está certo fazer coisas para se sentir bem e aprender a crescer como pessoa, mas nem tudo é baseado na felicidade.

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